• Luiza Adas*
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Sabemos que, ao longo da história, diversas mulheres artistas não tiveram o devido reconhecimento. Ione Saldanha é uma dessas figuras que, mesmo não sendo valorizada como deveria, nos deixa de queixo caído com a genialidade e a beleza de sua obra. No texto de hoje, venho contar pra vocês porque sua exposição Ione Saldanha: a cidade inventada, no MASP, é tão imperdível.

Ione Saldanha: a inventora de cidades inventadas (Foto: Luiza Adas)

Obra 'Bambus', em exposição no MASP (Foto: Luiza Adas)

Ione Saldanha nasceu no Rio Grande do Sul, em 1919, mas viveu durante grande parte da vida no Rio de Janeiro. Embora a artista seja contemporânea aos neo-concretistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark, ela tinha sua própria forma de pensar e produzir arte, não se denominando como parte de um movimento específico. Ao longo de quase seis décadas, ela produziu desde pinturas figurativas até obras abstratas em suportes tridimensionais para falar, principalmente, sobre as cidades que ela mesma criava. Embora a exposição esteja organizada em uma lógica “evolutiva”, criar uma linha cronológica de seu trabalho não é uma tarefa fácil, uma vez que a maior parte de sua produção não indica títulos nem datas.

Ione Saldanha: a inventora de cidades inventadas (Foto: Luiza Adas)

Obra 'Ripas' (Foto: Luiza Adas)

No primeiro núcleo da exposição, é possível ver pinturas figurativas, em que a artista utiliza blocos de cor para representar as partes que compõem casas e edifícios urbanos. Esses blocos já nos dão uma pista de como ela pensou seus trabalhos mais abstratos, conhecidos por “ripas” e “bambus”. As Ripas e os Bambus, suas obras mais famosas, são objetos tridimensionais pintados com diferentes cores, que dentro do contexto da exposição, me remeteram à verticalidade das grandes cidades, com seus prédios altos e diversas cores.

Ione Saldanha: a inventora de cidades inventadas (Foto: Luiza Adas)

Pintura figurativa de Ione Saldanha (Foto: Luiza Adas)

O aspecto mais interessante de toda a exposição, na minha opinião, é ver como Saldanha não cria apenas cidades do ponto de vista arquitetônico, mas sim toda uma linguagem, um idioma, traçando as características, a personalidade e a essência dessas cidades, por meio das cores e formas que utiliza. Suas obras possuem um “ritmo”, uma fluidez, aliadas à geometria e à verticalidade das representações. É como se ela quisesse transmitir a energia desses espaços, nos permitindo, de fato, adentrar, viajar e conhecer novos locais sem sair do lugar.

Ione Saldanha: a inventora de cidades inventadas (Foto: Luiza Adas)

Pintura abstrata de Ione Saldanha (Foto: Luiza Adas)

A exposição, com curadoria de Adriano Pedrosa, está dividida em nove núcleos e abrange toda a carreira de Ione Saldanha, dos anos 1940 até 1990. Com mais de 200 obras, essa é sua primeira exposição individual em São Paulo desde 1985. A mostra fica em cartaz até dia 06 de março de 2022.

*Luiza Adas é especialista em arte, pós-graduanda em Teoria e Crítica em História da Arte e fundadora do Museu do Isolamento, primeiro museu brasileiro concebido nas redes sociais. Luiza também fala sobre arte nas redes sociais em seu perfil pessoal @luiza.adas.