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    Peças com autenticidade questionada na ArtRio passaram por restauro

    SILAS MARTÍ
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    03/10/2016 02h00

    Divulgação
    Produzida nos anos 1960, obra de Raymundo Colares estava amarelada antes do restauro e, depois dele, levantou suspeitas na ArtRio
    Obra de Raymundo Colares dos anos 1960 estava amarelada antes do restauro e, depois dele, levantou suspeitas na ArtRio
    Divulgação
    Collares Depois
    Collares Depois

    Depois de retirar uma série de obras de seu estande na ArtRio por suspeitas de que poderiam ser falsas, o galerista Ricardo Duarte, da carioca Graphos, vem se defendendo das acusações levadas à direção da feira encerrada no último final de semana.

    Ele alega que as obras de Raymundo Colares, que causaram espanto entre críticos pelo brilho da superfície, passaram por um restauro recente.

    Também foram retocadas as telas de Maurício Nogueira Lima e Ubi Bava. Isso explicaria a aparência de nova desses quadros que teriam sido realizados nas décadas de 1950 e 1960.

    Todas essas obras estiveram no Centro de Conservação de Bens Culturais, empresa de Cláudio Valério Teixeira, um dos restauradores mais conhecidos do Rio.

    De acordo com ele, o verniz das peças estava amarelado, havia pontos em que a tinta havia descascado, sem contar os danos maiores sofridos pelas telas de Nogueira Lima, com fragmentos metálicos colados na tinta.

    "Quando eu desconfio que a obra é falsa, eu não restauro", diz Teixeira. "Não tem motivo técnico para dizer que os trabalhos são falsos."

    Teixeira, no entanto, disse não saber a procedência das peças, além de ser especialista em pintura brasileira do século 19 e não da época em que essas obras foram feitas.

    TRÁFICO

    Embora a imagem das peças deterioradas antes do restauro sustente a versão de Teixeira e Duarte, herdeiros e marchands desses artistas desconhecem os trabalhos.

    "Essa é uma obra que não passou pelas mãos da gente. Não me parece ser uma obra do Ubi Bava", diz Caio Bava, sobrinho-neto do artista, sobre a obra à venda na Graphos. "Ela é muito mais óbvia do que ele fazia. Também não foram mãos confiáveis que levaram a peça até a galeria. A obra é bonita, mas isso não quer dizer nada."

    Duarte alegou ter documentos que comprovam a autenticidade de todas as peças em questão, mas marchands também afirmam que existe uma espécie de tráfico de assinaturas de herdeiros, que vendem documentos em troca de dinheiro.

    Também chama a atenção o preço bem abaixo dos valores atuais de mercado pedidos por Duarte. Obras de Nogueira Lima, por exemplo, foram oferecidas pelo galerista por R$ 120 mil, enquanto especialistas do ramo dizem se tratar de trabalhos de pelo menos R$ 400 mil.

    O mesmo acontece com o "Objeto Ativo", de Willys de Castro. No estande da Graphos, a peça custava em torno de R$ 2 milhões, quando marchands dizem ser uma obra que poderia valer entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões.

    "Tenho 20 anos de mercado e nunca vi um 'Objeto Ativo' para vender", diz Thiago Gomide, da Bergamin & Gomide. "Dizem que vem de uma família de Curitiba, mas ninguém conhece essa família dona de obras raríssimas desses grandes artistas."

    Embora Duarte tenha entregue à feira com documentos que comprovassem a autenticidade das obras, Brenda Valansi, diretora da ArtRio, diz que no envelope que recebeu não havia nada que provasse a legimitidade da obra de Willys de Castro.

    Raquel Arnaud e sua equipe, que já representaram o artista, não conseguiram até agora confirmar que a peça é verdadeira. Duarte diz que ela tem certificado e aguarda que a galeria o encontre.

    Leonel Kaz, dono de uma editora no Rio que já teve negócios com Duarte, sai em defesa do amigo. "Todos nós podemos cometer pequenos equívocos", disse. "O Ricardo é muito rigoroso. Se ele cometeu qualquer deslize, vamos dar um crédito de confiança. Até hoje não ouvi nada que o desabonasse."

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