O tempo e o espaço da Mira Schendel

por Vivi Villanova

Bradesco
3 min readApr 3, 2018
Mira Schendel Sem título — Proprietário: Orandi Momesso

Está em cartaz no MAM de São Paulo a exposição Sinais / Signals da Mira Schendel (suspiros antecipam declarações apaixonadas). As obras ocupam toda a sala Paulo Figueiredo e são um conjunto de trabalhos que tem em comum o uso de elementos gráficos, marcantes na produção da artista.

Mira nasceu na Suíça, foi com a mãe para a Itália, passou pela Iugoslávia e em 1942 chegou ao Brasil, se instalando primeiro em Porto Alegre. Ela era uma mulher muito culta, gostava de filosofia, teosofia, poesia. Mas meu relato sobre a exposição não vai passar pela biografia dessa grande artista, pelo menos não diretamente.

Nas paredes da sala, as obras estão agrupadas por série, como as quase figurativas “Frutas” e os “Aaaa”; ou por afinidade dos grafismos, com linhas, círculos e cores que criam diálogos tão intuitivos quanto cósmicos entre si. As poucas palavras que você vai encontrar passam pelo “Universo”, o “Sol” e a “Lua”. Sinais.

Enquanto penso sobre as obras que vi no MAM sinto uma emoção delicada e vibrante, os sentimentos que a Mira desperta vem em dupla, se complementam. Os trabalhos convidam a viver sem pressa, a deixar as certezas do lado de fora. Pouquíssimos deles tem título, você está livre para ser.

Vivi Villanova na exposição Sinais / Signals Mira Schendel

As linhas, palavras e letras me deslocam no tempo. É presente, passado e futuro. Começo, meio e fim. No início o silêncio pode incomodar um pouco, mas os espaços em branco trazem a segurança de que você está ali, de que você existe. Algumas formas podem até despertar narrativas: uma prova de matemática, uma conversa criptografada, código Morse, ou nada, ou tudo. Tudo e nada acontecem ao mesmo tempo.

A delicadeza do papel-arroz, suporte de grande parte dos desenhos, me encanta profundamente. E muito me intriga ela voltar tantas vezes a esse material essencialmente frágil e se sentir tão à vontade nele. A personalidade da Mira está por toda parte.

O Professor Rodrigo Naves, amigo e estudioso da obra da Mira, me contou que como as folhas rasgavam com facilidade ela aplicava a tinta em uma lâmina de vidro, jogava um pouquinho de talco, desenhava com a unha ou uma tampa de caneta e então pressionava contra o papel. A linha demarca, mas não submete o papel e apesar disso tem uma intensidade incrível.

Enquanto os desenhos emoldurados preenchem as paredes, no centro da sala os acrílicos suspendidos no ar inventam um novo espaço. Tão sutil e poderoso como o que experimentamos até então.

Peço licença aos deuses das artes e a você que está lendo este texto, mas Mira Schendel me deixa emotiva. Afinal, o que pode ser mais simples e complexo, real e metafísico, inconstante e flexível do que uma linha?

Serviço:

Sinais / Signals Mira Schendel
Visitação: 17 de janeiro a 22 de abril de 2018
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº — Parque Ibirapuera, próximo aos portões 2 e 3.
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até às 18h)
Tel: (11) 5085–1300
Ingresso: R$ 7. Gratuito aos sábados.
Agendamento gratuito de grupo: 5085–1313 | educativo@mam.org.br

Vivi Villanova no MAM

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Bradesco

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